O que mais sentes falta da tua infância e juventude?
Da minha infância sinto falta das férias do Algarve com os meus avós paternos e os meus primos porque acho que nunca mais na vida vou ter férias assim, e as tardes despreocupadas a jogar futebol ou a brincar com os amigos. Da minha adolescência, a música, a minha banda e a sensação de tudo ser possível. Não que não ache agora, mas agora é tudo mais difícil, mais real.
Voltavas atrás em algum momento dessa época?
Acho que se tivesse uma máquina do tempo, iria sentir a tentação de voltar atrás a vários momentos da minha vida, seja para revive-los, seja para corrigi-los. Ao mesmo tempo acredito que aquilo que nós somos é o somatório das nossas experiências e que não faz sentido reviver ou mudar o que nos aconteceu pois isso faz parte de nós. No entanto há uma coisa que eu mudaria. Quando o meu avô paterno ficou doente teria ido visitá-lo mais cedo nem que fosse só um dia, para poder despedir-me dele antes de ele morrer.
Como surgiu o gosto pela meio audiovisual? Sentes que foi algo que surgiu naturalmente ou tem outro motivo?
Desde pequeno que sempre tive um contacto grande com o mundo do audiovisual, de uma perspectiva amadora. Sempre houve máquinas fotográficas na família, o meu pai comprou a sua primeira máquina de filmar eu era bastante novo, e eu sempre tive curiosidade em mexer com esse tipo de equipamentos. Ao mesmo tempo sempre houve também o hábito de ir ao cinema ou de alugar uma cassete de vídeo, quando os clubes de vídeo ainda existiam. E tal como quase toda a gente, a música também era algo que estava sempre presente. Mais tarde envolvi-me mais com a música pela necessidade de me expressar e por ela me parecer algo tão natural para esse papel. O cinema surge na continuação dessa necessidade.
Qual é a opinião da tua família em relação à profissão que escolheste?
Qualquer pai ou familiar poderá olhar para a escolha de uma carreira nesta área com algumas reticências, ainda mais tendo em conta o estado atual da economia portuguesa e mundial. Mas fui sempre apoiado e sempre senti que o principal para eles é que eu encontrasse um rumo e pudesse ser feliz.
Qual foi a tua primeira experiência com o meio audiovisual?
Como já tinha referido comecei com a música. A nível profissional a minha primeira experiência foi no Canal 180 num estágio de verão que fiz entre o primeiro e segundo ano da faculdade.
Porquê a universidade Católica? Tem algum motivo especial?
Para ser muito sincero, a decisão de ir para a Católica foi sempre um pouco resultado da minha preguiça e ao mesmo tempo impulsividade. Na primeira vez, eu sabia que queria um curso relacionado com o audiovisual, Som e Imagem foi a primeira opção que apareceu e eu nem pensei duas vezes. Na segunda vez, eu queria arrancar no novo rumo que queria dar à minha vida e a matricula estava congelada. Porque não?
Como descreves toda a tua experiência académica?
Foi três anos de grande desenvolvimento para mim, a nível profissional mas também pessoal. Aprendi muito com o curso e ainda mais com as experiências, curriculares e extracurriculares que se foram proporcionando.
Como surgiu a ideia e a oportunidade de desenvolveres o projeto Aquário?
O projeto, na altura ainda sem nome, surgiu do desafio da universidade aos alunos do terceiro ano, no sentido de realizarem uma curta metragem com o apoio de 1000€ por parte do Instituto do Cinema e do Audiovisual. Eu e o Alexandre Oliveira, que acabou por não fazer parte da equipa final, “contratamos” os restantes membros da primeira “versão” da equipa. Acabou por correr bem para nós e conseguimos filmar O Aquário no verão de 2013 com uma excelente equipa.
Descreve-nos a experiência da rodagem deste projeto?
Foi uma experiência bastante interessante pois acho que todos os elementos necessários estavam presentes. Tivemos os meios técnicos, um excelente local de filmagens, excelentes atores e uma equipa quase toda acabada de se licenciar a ter aquela que provavelmente foi a primeira experiência do género no sentido em que durante aqueles dias só tínhamos de nos preocupar com aquilo. Ao contrário do que foi o “pão nosso de cada dia” nos três anos de faculdade em que eram sempre uns 7 trabalhos para fazer e uns dois exames para estudar. Ou seja houve uma imersão de todos no projeto, o que eu acho que é essencial, uma grande concentração naquilo que era preciso fazer para podermos contar a história da melhor maneira que nós sabíamos. Tudo isto fez com que a experiência fosse bastante interessante, não só pelo produto final, mas também pelo processo em si que foi bastante enriquecedor.
Dos vários projetos que desenvolveste sentes que este (Aquário) foi um marco importante neste teu inicio de carreira?
Penso que sim principalmente pelo facto de ter sido o projeto em que eu pude dedicar-me a 100‰ aquilo que eu gosto que é a realização.
De todo o projeto tens algum momento que destaques, tanto negativo ou positivo?
Foi uma experiência bastante positiva em todos os aspectos pelo que destacar tanto momentos negativos como momentos positivos é difícil, mas penso que destacaria o final das filmagens como o momento alto do processo. Foi uma semana bastante entusiasmante e divertida mas também cansativa. Quando terminamos as filmagens senti que tínhamos o que precisávamos para termos um bom produto final, o que se veio a confirmar.
O que teve este projeto de diferente em relação a todos os outros projetos que desenvolveste?
O facto de ter-me podido dedicar mais exclusivamente à realização, o que se deveu ao facto de ter uma excelente equipa a trabalhar comigo.
O Aquário faz parte das 4 curtas que constituíam o grupo de projetos da universidade católica, que venceu o prémio Melhor Escola de cinema Portuguesa do Festival Internacional de Cinema do Porto, o FANTASPORTO 2014, como te sentes visto seres o Realizador deste projeto?
Fiquei bastante feliz e orgulhoso, não só pelo meu projeto e por mim, mas também pelos meus colegas.
Sentes esta distinção como um ponto de partida para outros prémios e paragens para o vosso projeto?
Tenho essa ambição sim mas só o tempo dirá se será ou não.
Qual é o teu objectivo para este projeto? Onde gostarias que o aquário chegasse, a nível de festivais de cinema ou outras metas?
Gostava de ver o Aquário por aí espalhado pelo mundo! Principalmente se com isso eu poder dar umas voltas com ele também.
Sendo tu o Realizador do Aquário, como descreves o projeto/ história?
A história gira à volta de três pessoas que vivem no mesmo apartamento, cada uma delas com um problema de memória diferente, durante um dia. Não queria revelar muito sobre a história, acho que pode ser uma boa reflexão sobre aquilo que nos faz ser nós. O que somos para além das nossas recordações?
Este foi o teu mais recente projeto, quais são os teus próximos objectivos? Vais continuar a realizar ficção?
De momento ganhar mais experiência. Tenho feito alguns trabalhos em freelancer e irei começar a trabalhar em Maio numa empresa em full time. A possibilidade de trabalhar em exclusivo em ficção e também documentário são objectivos a longo prazo pelo que irei sempre tentar conciliar projetos desse género com a minha atividade profissional. Tenho algumas ideias que gostava de concretizar a curto prazo, vamos ver o que será possível.
Dentro do meio audiovisual, qual seria o teu maior sonho? Onde gostarias mais de trabalhar ou com quem no futuro?
O meu sonho seria ser um realizador de cinema a full time e ainda poder conciliar isso com algo relacionado com a música pelo meio. Vamos a ver até onde consigo chegar.
Se não pudesses trabalhar na área audiovisual, tens alguma outra área na qual te vês a gostar de trabalhar?
Gostava de um dia mais tarde fazer algo em Psicologia. É uma área que me suscita bastante interesse. Quem sabe um dia mais tarde.
Qual é o teu maior sonho, seja pessoal ou profissional?
Sou uma pessoa cheia de objectivos mas neste momento penso que aquele que mais queria era ser pago para realizar uma longa-metragem escrita por mim.
ENTREVISTA DE KARINA SILVA
FOTOGRAFIAS DE ELISA FREITAS